Ariel (um anjo no inferno)

E eis que de repente vejo um anjo
E por mais desajeitados que fossem seus movimentos, a música pairava em seu corpo de pele muito branca
Seus cabelos loiros cortados em desalinho tentavam disfarçar sua angelical identidade
Mas suas pernas torneadas pelas montanhas nevadas de Santiago do Chile seriam capazes de leva-lo onde quisesse
Sua boca guardava o mais branco dos sorrisos
E seus hipnotizantes olhos verdes desabrochariam o mais novo botão de rosa vermelha. Que olhos!
Seus braços eram como convites ao abraço
E em seu dorso levemente esculpido pela juventude as carícias se perdiam
Seu corpo excitantemente leve encaixava suas linhas com as do meu
E olhar seu rosto, quando de olhos fechados em êxtase, era como voar entre as nuvens sentindo o vento fresco despenteando os cabelos
Como todo anjo, comunicava-se de diversas formas: sorria, piscava, dançava, além de falar espanhol, inglês e, obviamente, hebraico
Às vezes o ato mais simples como o de dar as mãos ou retribuir um beijo lhe parecia algo tão novo que me dava a certeza de que essa era a sua primeira visita à terra
Sua voz emanava sotaques diversos no ar e as mãos tentavam traduzir palavras aleatórias
Se tinha asas eu não sei, não as vi
Mas mesmo sem elas, me levou aos céus em pleno inferno do Rio de Janeiro.